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11 janeiro 2007

Nossa comida está doente?

Nossa comida está doente?

reportagem: Fernanda Colavitti


Carne, frango e peixe


Praticamente todas as semanas é divulgado um novo estudo ligando o consumo de carne vermelha a algum tipo de câncer. O maior deles, que investigou os hábitos alimentares de 500 mil pessoas na Europa durante cinco anos e foi divulgado no ano passado, mostrou que pessoas que comem carne vermelha e seus derivados têm mais chances de desenvolver câncer de intestino.

Mas o preço para sair desse grupo de risco pode ser elevado. A nutricionista Luana Caroline dos Santos, da Faculdade de Saúde Pública da USP, diz que a carne bovina apresenta um grande valor nutricional, pois é rica em proteínas de excelente qualidade, é fonte de minerais como ferro (que previne a anemia) e zinco (importante para o sistema imunológico, cicatrização e crescimento), fornece ácidos graxos essenciais e vitaminas do complexo B, principalmente a vitamina B12, essenciais para o funcionamento do organismo. "Deste modo, esta carne não deve ser excluída da alimentação."

Como resolver esse dilema? Os especialistas dizem que o consumo moderado de carne vermelha não acarreta prejuízos à saúde. Segundo Luana, é possível consumir até 170 gramas por dia, o equivalente a um bife grande, preferencialmente de carne magra, sem riscos.

Legumes, frutas e verduras

Para tranqüilizar, saiba que algumas verdades a respeito da comida são imutáveis. As saladas continuam ótimas para a cintura. Pelo menos para o lado de fora dela. Para o de dentro, nem tanto. Apontados como os principais componentes de >> >> uma dieta saudável, legumes, frutas e verduras estão sob suspeita nos últimos tempos devido à presença de agrotóxicos. E a coisa piora na mesa brasileira. Um relatório da FAO classifica o Brasil como o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do mundo, despejando anualmente 1,5 kg de ingrediente ativo por hectare cultivado.

Em algumas lavouras, o uso de agrotóxicos é assustador: na cultura do tomate, a média é de 40 quilos por hectare em cada safra. "Outros campeões de agrotóxicos são a batata, o morango e a uva", diz o engenheiro de alimentos Francisco Maugeri Filho, da Unicamp. Ele acrescenta que é justamente por isso que as aclamadas propriedades funcionais do tomate só entram em campo quando ele é cozido. "Só assim os agrotóxicos são desnaturados", diz.

Muitos destes agrotóxicos são comprovadamente cancerígenos e podem causar problemas de fertilidade em homens e mulheres. Além disso, quando mal utilizados, podem provocar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda e crônica. Esta última, a mais letal delas, pode levar a paralisias e doenças severas, como o câncer. "Uma pessoa de 30 anos que ingira agrotóxicos por meio de alimentos, todos os dias, pode vir a sentir esse efeitos aos 60", afirma Gwendal Bellocq, gerente de certificação do Instituto Biodinâmico (IBD), que atesta produtos orgânicos. Mas nem tudo o que sempre ouvimos sobre o benefício da ingestão de frutas, verduras e legumes está errado. Quando avaliamos a relação risco-benefício entre os agrotóxicos e o consumo de frutas e verduras, os benefícios são muito maiores e já comprovados. A balança tem de pesar para que esses alimentos sejam, sim, consumidos", diz a nutricionista Priscila Maximino, da USP.

Comida industrializada

Bom, aqui há pouca controvérsia. A comida industrializada é uma fábrica de doenças. Isso por conta dos aditivos, corantes, açúcares e gorduras adicionadas no processo. Fica fácil se certificar disso ao ler rótulos de margarinas. Mas até comidas consideradas inofensivas carregam os mesmos males. Um exemplo é o pão francês, segundo o engenheiro de alimentos Francisco Maugeri, da Unicamp. "Esse alimento é cheio de aditivos e, além disso, o trigo é um cereal de clima frio, que está sendo plantado no cerrado, que é quente. Para que cresça e não tenha problemas com pragas, é lotado de agrotóxicos."

Primos próximos dos pães, os biscoitos escondem em sua receita o atual campeão de vilania: a gordura trans. Seu efeito no organismo é semelhante ao da gordura saturada, portanto, favorece a diminuição do HDL (o colesterol do bem) e o aumento do LDL (o do mal). O consumo excessivo de gordura trans pode mandar o seu colesterol às alturas.

Dizer para que as pessoas nunca mais consumam produtos industrializados, por conta desses problemas, seria uma recomendação fora da realidade. Mas dá para maneirar. "Privilegiar o consumo de alimentos frescos e produzidos sob manejo orgânico ou processados sem o uso de aditivos sintéticos é uma alternativa", diz Luana. O conselho é perfeito, mas, como está muito longe de ser realidade para a maioria dos mortais, alguns especialistas consideram a comida, se não a maior, uma das grandes drogas do século 21. Os números sustentam esse raciocínio.

Todos os anos, 200 mil pessoas morrem devido a problemas ligados ao consumo de drogas, segundo a OMS. Parece muita gente, mas, se compararmos à quantidade de gente que morre em decorrência de danos causados pela má alimentação, não é nada. Dados mais recentes da mesma organização, de 2001, dizem que mais de 33 milhões de pessoas morreram naquele ano por doenças crônicas ligadas à comida. Nada que é inalado ou aspirado é um matador mais eficaz do que aquilo que é mastigado.

A dieta ideal

Mais atividade física, quantidades diferentes de gorduras saudáveis e não-saudáveis, menos laticínios e bastante vegetais e legumes.

Um comentário:

Andréa disse...

Muito legal Silvia. Mas quer saber não abro mão de um bom e suculento bifão! Gostei tb da matéria das woorkaholics femininas - tô fora!
Bjs