Pesquisa personalizada

09 janeiro 2007

A apoteose do indivíduo?

As novas tecnologias mudarão o estilo de vida das pessoas e, conseqüentemente, a maneira como vêem a si mesmas, os outros e a sociedade. Segundo a neurocientista inglesa Susan Greenfield, diretora da Instituição Real, em Londres (Inglaterra), essas mudanças podem levar a um esvaziamento de identidade ou, por outro lado, estimular a criatividade do indivíduo.

Na palestra ‘Pessoas do amanhã’, Greenfield discutiu essas questões e apresentou algumas das mudanças que estão por vir. Para ela, o momento de se perguntar se queremos que nossos filhos cresçam neste mundo diferente é agora. “Esta é a hora para discussão. As alterações podem ser boas ou más; o problema é que não temos dados para fazer um julgamento adequado”, afirma a neurocientista, que faz campanha para que o governo britânico destine recursos para pesquisas sobre esse tema.

Em relação ao trabalho, por exemplo, Greenfield conta que o avanço da tecnologia da informação deve levar a uma diminuição no tamanho das empresas e a um aumento da terceirização. A hierarquia corporativa será substituída por trabalhadores autônomos e a vida profissional não será mais isolada da pessoal. Os profissionais não terão uma profissão por toda a vida, eles se adaptarão e aprenderão habilidades novas. Com isso, as pessoas poderão administrar melhor suas tarefas e sobrará mais tempo livre. “Mas como elas irão lidar com essa mudança?” questiona a neurocientista, que cita estimativas de que, no futuro, um em cada quatro indivíduos sofrerá de depressão.

Por outro lado, as pessoas viverão mais e serão mais produtivas. “Teremos a ascensão do poder grisalho”, destaca Greenfield. Além disso, ela acrescenta que os avanços na medicina permitirão que as mulheres sejam mães com idades cada vez mais avançadas, mudando a narrativa de vida tradicional. “Entre doações de esperma e óvulos, mães de aluguel e úteros artificiais, uma criança poderá ter até seis ‘pais’ diferentes”, ressalta.

Segundo Greenfield, o futuro será provavelmente repleto de estímulos que inundarão os humanos a todo instante. Isso poderá levar a uma cultura da tela, na qual as pessoas vivem para as sensações imediatas. “Seria um mundo rico em respostas, mas pobre em perguntas”, afirma. Essas transformações poderiam tornar as pessoas vazias e sem identidade, mas a neurocientista acredita que há uma alternativa. “Esses avanços podem estimular a criatividade humana; podemos atingir uma apoteose do indivíduo”, conclui .

Fred Furtado
Especial para Ciência Hoje On-line
05/01/2007

Nenhum comentário: