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15 outubro 2007

Parques lineares em São Paulo (SP) pretendem combater ilhas de calor causadas pela “selva de pedra”

Por: Mônica Pinto / AmbienteBrasil

Na cidade de São Paulo, verifica-se uma variação de até nove graus de uma região para outra, no mesmo horário. Esse fenômeno, causado basicamente pelas chamadas ilhas de calor, foi um dos registrados pelo Atlas Ambiental, publicado no final de 2004 pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, com a consultoria, na parte de Clima Urbano, do geógrafo José Roberto Tarifa, professor aposentado do Laboratório de Climatologia da Universidade de São Paulo – USP.

“As ilhas de calor são típicas de bairros de ocupação com padrão predominantemente industrial”, disse a AmbienteBrasil a geóloga Patrícia Sepe, supervisora de Planejamento Ambiental da Secretaria e coordenadora do Atlas. Isso porque, neles, em geral, falta arborização, enquanto sobram asfalto, concreto e telhas de amianto, materiais que refletem muito o calor.

À época dos estudos para o Atlas, ficou patente a responsabilidade do “progresso” nessa variação de temperatura ambiente. Foi feita uma simulação das unidades climáticas da capital paulista antes da intervenção antrópica, ou seja, quando a futura maior cidade do Brasil era habitada apenas por algumas tribos indígenas, que conviviam harmonicamente com flora e fauna. Este primeiro mapeamento revelou que, no início da colonização portuguesa, havia na região sete unidades climáticas. Hoje, altamente urbanizada, São Paulo convive com cerca de 50.

“Esse é um modelo de mudança climática local, que a cidade está produzindo ao longo de sua ocupação”, diz Patrícia.

As ilhas de calor, além de gerarem um desconforto térmico prejudicial inclusive à saúde dos moradores dos bairros onde elas se situam, influenciam o regime de chuvas, muito errático sobretudo no verão. “Uma frente fria que venha do litoral, passando pela calha do rio Tamanduateí, cuja morfologia natural favorece a circulação dos ventos, se choca com uma ilha de calor e aí chove. Ou seja, a umidade não consegue entrar e levar a chuva mais ao sul”, exemplifica a geóloga.

Uma das trincheiras de combate a esse problema está nos 31 parques lineares que a Prefeitura de São Paulo pretende implantar por toda a cidade. A idéia é não só expandir sua área verde, mas também contribuir para melhorar a permeabilidade do solo – o que reduz a formação de ilhas de calor e os estragos potenciais de enchentes – e proteger os cursos d'água ainda não canalizados.

A expectativa é que esses espaços evitem ainda a construção de habitações irregulares nas áreas de várzea dos córregos, e melhorem a qualidade de vida das populações de seu entorno, na medida em que os parques disponibilizem equipamentos de lazer.

A implantação de parques lineares é um conceito que surgiu no Plano Diretor Estratégico da cidade, criado pela Lei 13.430/2002. Para esse projeto, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente tem recursos oriundos do Fundo de Desenvolvimento Urbano – Fundurb -, vinculado à Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, da ordem de R$ 38 milhões, valor que garante inicialmente a implantação de alguns parques. Outros serão executados mediante a entrada de compensações ambientais, um processo mais complexo e demorado.

Isso porque eles dependem de destinação de recursos da Câmara de Compensação Ambiental. O projeto é apresentado ao empreendedor, que pode ou não aprovar a conversão das mudas em obras. Por causa deste processo, os parques implantados desta maneira são feitos em etapas.

Já os parques com recursos do Fundurb deverão se tornar realidade no primeiro semestre de 2008, conforme a Assessoria de Comunicação da Secretaria.

Um deles está pronto, o Ipiranguinha, localizado na Subprefeitura de Itaquera. Um segundo, o de Parelheiros, tem conclusão prevista para o final deste mês. Estão em obras mais quatro: Sapé (Butantã), Itaim (Itaim Paulista), São José (Capela do Socorro) e Rapadura (Aricanduva).

Fora estes, ainda em 2007 deverão ser iniciadas obras em outros cinco parques lineares. Em 2008, mais seis começam a ser implantados, enquanto outros quatorze, atualmente, encontram-se na fase de levantamentos preliminares.

Patrícia Sepe admitiu a AmbienteBrasil que essa trajetória, muito provavelmente, vai esbarrar em percalços, especialmente porque ela prevê desapropriação de 5 milhões de metros quadrados, entre áreas de favelas e outras não públicas.

matéria do site: Ambiente Brasil

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