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24 novembro 2006

Poluentes em casa - Nenhum lugar é seguro?

O simples ato de viver nos expõe a toxinas ambientais encontradas em tecidos, gases liberados por veículos, plásticos e sistemas de filtragem em nossos telefones e computadores - e a lista prossegue. Não podemos escapar desses elementos nem no conforto do lar. Nossas casas estão cheias de produtos químicos que se infiltram no corpo. Alguns são obviamente tóxicos, ao passo que outros são suspeitos de fazer mal.
Graças à química moderna, os ovos não grudam na frigideira, os desodorantes duram o dia todo e os carros aceleram a até 100 quilômetros por hora em menos de 10 segundos. Tudo tem um preço: as substâncias que impulsionam a vida moderna – de toxinas já estudadas a novos compostos – se acumulam em nosso corpo e ali permanecem durante anos.

Meu experimento como cobaia humana está tomando um rumo assustador.

Um químico sueco está ao telefone, falando sobre retardantes de fogo, substâncias químicas que, por razões de segurança, são adicionadas a todos os produtos que podem entrar em combustão. Encontrados em colchões, tapetes, gabinetes plásticos de TVs, circuitos eletrônicos e carros, os retardantes de fogo salvam, somente nos Estados Unidos, centenas de vidas a cada ano. Mas essas substâncias também acabam indo parar onde não deveriam: no interior do meu corpo.

Em 2005, a União Européia deu sua aprovação inicial a uma proposta de regulamentação jurídica denominada Reach – Registration, Evaluation, and Authorization of Chemicals (Registro, Avaliação e Autorização de Produtos Químicos) –, a qual transfere às indústrias o ônus de comprovar a segurança dos produtos que vendem ou usam e de mostrar que os benefícios destes no fim das contas são maiores que os riscos. A proposta, que não conta com o apoio nem da indústria nem do governo americano, também prevê incentivos para que as empresas encontrem alternativas mais seguras a retardantes de fogo, pesticidas, solventes e outros produtos suspeitos. Isso daria um impulso ao chamado “movimento da química verde ou sustentável”, uma busca de alternativas que já vem ocorrendo em laboratórios de ambos os lados do Atlântico.

Por mais perturbadora que tenha sido até agora minha pesquisa do fardo químico em meu organismo, o fato é que ainda ficaram de fora milhares de compostos, entre eles pesticidas, plásticos, solventes e um ingrediente de combustível de foguetes chamado perclorato que vem contaminando mananciais em muitas regiões do país. Tampouco realizei exames para detectar coquetéis químicos – misturas de substâncias que talvez sejam inofensivas isoladamente, mas que, juntas, prejudicam as células humanas. Quando misturados, pesticidas, PCBs, ftalatos e outros “podem ter efeitos multiplicadores ou podem se revelar antagonistas entre si”, diz James Pirkle, dos CDC, “ou podem ser inofensivos. Não temos a menor idéia.”

Assim que finalmente recebo os resultados completos dos exames toxicológicos, eu os mostro ao meu clínico particular, que reconhece estar pouco familiarizado com essas substâncias, excetuando o chumbo e o mercúrio. Mas ele reitera que, até onde consegue saber, estou bem de saúde. E diz para não me preocupar. Por isso, não pretendo deixar de viajar regularmente de avião, de fazer ovos mexidos em frigideira antiaderente ou de usar xampu perfumado. Mas tenho certeza: jamais voltarei a sentir a mesma tranqüilidade em relação a todos esses produtos químicos que facilitam de tantas formas a nossa vida.

http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/edicoes/0610/toxic.shtml

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