Pesquisa personalizada

30 agosto 2010

Inflamação no cérebro pode acarretar obesidade e diabetes tipo 2...

Uma relação pouco cogitada há 15 anos ganha cada vez mais força no estudo das causas da obesidade: a inflamação do hipotálamo – uma estrutura com 1,5 cm³ que compõe o cérebro e é responsável pela regulação da fome e do gasto de energia – pode ser causada pela ingestão de gorduras saturadas e não somente pelo hábito de comer muito. Como se não fosse suficiente, a alteração do órgão, apontada como uma das principais causas para a obesidade, também pode levar à alteração da função do pâncreas, local responsável pela produção de insulina. A substância transporta a glicose presente no sangue para dentro das células, permitindo a produção de energia, vital para o corpo sobreviver. O pesquisador Lício Velloso, do departamento de Clínica Médica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), estuda há dez anos a ligação entre a comida ingerida pelas pessoas com o ganho de peso e testou ratos em laboratórios para notar qual o efeito da mudança no hipotálamo para a regulação do peso. As descobertas vão desde a identificação do órgão como responsável direto pelo ganho de peso até a ligação da inflamação com a falência das células pancreáticas em garantir ao corpo a insulina. O final da história é o aparecimento de diabetes tipo 2.
Apoptose – Inflamações no corpo são sempre indícios da possibilidade de apoptose, uma espécie de morte programada das células no corpo, segundo Lício. Durante o trabalho com camundongos swiss, com maior tendência a engordar, e wistar, menos propensos à doença, o pesquisador e sua equipe notaram que ocorre maior taxa de morte celular de neurônios inibidores no primeiro grupo. “A diferença foi de 6% a 7% entre os dois tipos de roedores”, afirma Velloso. O efeito vem da inflamação do hipotálamo, causada pela presença de longas cadeias de ácidos graxos saturados, com mais de 14 átomos de carbono. O sistema imunológico do cérebro é ativado na presença dessas substâncias por serem parecidas com as encontradas em bactérias.
“O organismo é levado a pensar que há uma ameaça e então uma inflamação do órgão acontece”, explica o especialista. “Com a produção de citocinas para defesa do corpo, a função de um neurotransmissor do hipotálamo é afetada.”
Neurotransmissor – Velloso faz referência ao alfa-MSH, estrutura responsável por mandar sinais para inibir a fome e acelerar as atividades de gasto de energia. Localizado na região do núcleo arqueado do hipotálamo, o neurotransmissor responde à presença de insulina e leptina, ordenando o organismo a cessar a vontade de comer. Mas a presença de processos inflamatórios faz com que o alfa-MSH desenvolva resistência às substâncias que alertam sobre as condições de reserva de energia disponíveis no organismo. “Com citocinas como a tumor necrosis factor (TNF), a vida dos neurônios é atrapalhada”, afirma Velloso.
Diabetes 2 – A falência das células-beta das ilhotas de Langerhans, localizadas no pâncreas, levam ao desenvolvimento de diabetes tipo 2, junto com a resistência do corpo à insulina. A causa para a exaustão das estruturas responsáveis pela secreção de substância também está ligada à inflamação do hipotálamo. “É a união de dois problemas: o hipotálamo não controla mais a fome e a pessoa fica obesa e, por outro lado, ainda atrapalha a função do pâncreas para secreção da insulina”, explica o pesquisador da Unicamp. Sem a secreção, a glicose presente no sangue não consegue entrar nas células para produção de energia na forma de ATP.
Soluções – Enquanto remédios para diminuir ou eliminar a condição adversa no hipotálamo não surgem, Velloso acredita que a solução possa estar na mudança de práticas por parte dos fabricantes de comida. “Políticas de nutrição do governo precisam estimular a indústria alimentícia a substituir, nos alimentos industrializados, gorduras saturadas por insaturadas”, diz o especialista. “É o caso da troca do que faz mal ao corpo por ômega 3 e 9, por exemplo.” Segundo Velloso, mesmo uma mulher com 1,70 metro e 65 quilos, ao ganhar 4 quilos, pode quase dobrar as chances de desenvolver diabetes tipo 2. O padrão também serve para os homens, ainda que de forma mais discreta. “Há apenas 20 anos a OMS passou a encarar a obesidade como doença. Os passos são lentos, mas agora, pelo menos, nós sabemos que a causa está no hipotálamo”, diz Velloso. “A prática clínica ensina que recomendar dietas a obesos, pura e simplesmente, não adianta. É preciso mudar o padrão dos nossos alimentos.”

(Fonte: Mário Barra/ G1)

25 agosto 2010

Vitamina D pode proteger contra câncer, diabetes e artrite...

A vitamina D pode proteger o corpo humano contra uma série de doenças ligadas a condições genéticas, incluindo câncer, diabetes, artrite e esclerose múltipla, segundo uma pesquisa britânica recém-publicada. Os cientistas mapearam os pontos de interação entre a vitamina D e o DNA e identificaram mais de 200 genes influenciados pela substância. A vitamina D é produzida naturalmente pelo corpo pela exposição ao sol, mas a substância está presente também em peixes e crustáceos e, em menor quantidade, em ovos e leite.
Mas acredita-se que até um bilhão de pessoas em todo o
mundo sofram de deficiência de vitamina D pela pouca exposição ao sol. Já se sabia que a falta de vitamina D podia levar ao raquitismo e havia várias sugestões de ligações com doenças, mas a nova pesquisa, publicada pela revista especializada Genome Research, é a primeira que traz evidências diretas de que a substância controla uma rede de genes ligados com doenças.
Receptores – Os pesquisadores, da
Universidade de Oxford, usaram uma nova tecnologia para o sequenciamento do DNA para criar um mapa de receptores de vitamina D ao longo do genoma humano. O receptor de vitamina D é uma proteína ativada pela substância, que se liga ao DNA e assim determina quais proteínas são produzidas pelo corpo a partir do código genético.
Os pesquisadores identificaram 2.776 pontos de ligação com receptores de vitamina D ao longo do genoma, concentrados principalmente perto de alguns genes ligados a condições como esclerose múltipla, doença de Crohn, lupus, artrite reumatoide e alguns tipos de câncer como leucemia linfática crônica e câncer colo-retal. Eles também mostraram que a vitamina D tinha um efeito significativo sobre a atividade de 229 genes incluindo o IRF8, associado com a esclerose múltipla, e o PTPN2, ligado à doença de Crohn e ao diabetes do tipo 1. “Nossa pesquisa mostra de forma dramática a ampla influência que a vitamina D exerce sobre nossa saúde”, afirma um dos coordenadores da pesquisa, Andreas Heger.
Seleção – Os autores afirmam que o consumo de suplementos de vitamina D durante a gravidez e nos primeiros anos de vida podem ter um efeito benéfico sobre a saúde da criança em sua vida no futuro. Outras pesquisas anteriores já haviam indicado que a pele e os cabelos mais claros entre as populações de partes da Terra com menos incidência de raios solares teriam sido uma consequência da evolução para melhorar a produção de vitamina D. Segundo os pesquisadores da Universidade de Oxford, isso poderia explicar a razão de seu estudo ter identificado um número significativo de receptores de vitamina D em regiões do genoma com mutações genéticas mais comumente encontradas em pessoas de ascendência europeia ou asiática. A deficiência de vitamina D em mulheres grávidas pode provocar contrações pélvicas, aumentando o risco de morte da mãe e do feto. Segundo os pesquisadores, essa situação pode ter levado ao fim de linhagens maternais de pessoas incapazes de aumentar sua disponibilidade de vitamina D. “A situação em relação à vitamina D é potencialmente uma das pressões seletivas mais poderosas no genoma em tempos recentes”, afirma outro coordenador da pesquisa, George Ebers. “Nosso estudo parece apoiar essa interpretação e pode ser que não tivemos tempo suficiente para fazer todas as adaptações de que precisávamos para suportar nossas circunstâncias”, disse.

(Fonte: G1)

18 agosto 2010

Lago na Argentina ‘reproduz condições primitivas da Terra’...

Em um lago remoto, a 4,5 mil metros acima do nível do mar e em um habitat com pouco oxigênio, vivem as “superbactéras”. Esses milhões de organismos resistentes a extremos, descobertos por uma equipe de investigadores da Argentina, poderiam ajudar a revelar como começou a vida na Terra e como seria possível sobreviver em outros planetas.
A descoberta se deu no lago Diamante, na província de Catamarca, no noroeste da Argentina – um espelho de água no meio de uma cratera vulcânica que, segundo os especialistas, é o mais próximo do ambiente primitivo da Terra que existia há 3,4 bilhões de anos atrás.
“Estas lagoas e as bactérias que sobrevivem nelas guardam o segredo de mecanismos de resistência a condições extremas que podem ter muitas aplicações biotecnológicas”, disse à BBC Mundo a microbióloga María Eugenia Farías, do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet, na sigla em espanhol). Se as bactérias são capazes de sobreviver neste ambiente inóspito, sugerem os pesquisadores, talvez pudessem também sobreviver em um habitat como o do planeta Marte. A pesquisa se insere na chamada ciência da astrobiologia, que investiga possíveis formas de vida extraterrestre.
Janela para o passado e o futuro – Há uma década, Farías e sua equipe se dedicam a estudar lagoas andinas localizadas entre 3,5 mil e 4,6 mil metros acima do nível do mar.
Na composição das águas dessas lagoas, muitas variáveis são extremas. No lago Diamante, por exemplo, a salinidade é cinco vezes maior do que no oceano e o arsênio, 20 mil vezes mais concentrado que na água considerada potável. A alcalinidade é altíssima, a pressão do oxigênio é muito baixa e a radiação ultravioleta, elevada. As variações da temperatura também são extremas, com oscilações de até 40ºC entre o dia e a noite. “Essas condições são muito semelhantes às da Terra primitiva, quando não havia camada de ozônio, e às de Marte, onde tampouco (a camada) existe. Nós sabemos que em Marte há água, ou houve água em outros momentos, e na Terra primitiva também havia água, porque foi daí que a vida evoluiu”, disse Faría. Assim, em plena Puna argentina, os cientistas encontraram esses organismos formando os chamados “tapetes microbianos” ou estromatólitos. Essas associações microbianas de algas e bactérias são os primeiros registros conhecidos fósseis – só que agora foram encontrados vivos.
“É como um fóssil vivo: estamos encontrando o ecossistema mais antigo da Terra, vivo e se desenvolvendo nas condições mais semelhantes possível à da Terra primitiva.” O que é particular em relação a estas superbactérias é que elas são capazes de prosperar em ambientes com múltiplas condições extremas – daí seu nome poliextremófilas. “Agora queremos estudar o DNA completo de todas estas comunidades de bactérias e estudar os genes que lhes ajudam a viver nestas condições. Isto pode nos dizer muito sobre nosso passado”, disse Farías. Sobre a vida extraterrena, diz a cientista, em teoria não há melhor laboratório que a Puna andina – com suas condições extremas de radiação ultravioleta, água e oxigênio rarefeito – para estudar como seria a sobrevivência de organismos em Marte.
Outros usos – Além disso, a descoberta, única no mundo, também permite antecipar outros usos para as bactérias poliextremófilas – por exemplo, na área de biocombustíveis. “Se quisermos usar algas para produzir biocombustível, estas podem ser criadas em águas com altos níveis de arsênio, que não são utilizáveis para o consumo humano ou irrigação de colheitas”, diz Farías. Para ela, a alga como matéria-prima para biocombustíveis tem também a vantagem de “não competir por áreas que poderiam ser usadas em outros cultivos”, especialmente na produção de alimentos. Segundo ela, as bactérias também poderiam ser aplicadas em processos de “biorremediação”, que se refere ao uso de organismos para restaurar ecossistemas degradados. Um exemplo seria a recuperação de habitats em zonas extremas, como a Antártida ou zonas de alta salinidade, nas quais os organismos seriam capazes de sobreviver. Até a indústria farmacêutica poderia se beneficiar: os mecanismos de resistência desses organismos podem servir para produzir antioxidantes, antibióticos anti-tumorais e até cremes de proteção solar.

(Fonte: G1)

10 agosto 2010

Escovar os dentes corretamente pode prevenir doenças cardíacas...

Uma pesquisa escocesa publicada no British Medical Journal, revista especializada em medicina, aponta que a saúde da boca está diretamente relacionada com a saúde geral do paciente. De acordo com o estudo feito com quase 12 mil pessoas, quem não escova os dentes, ou os escova apenas uma vez por dia, tem mais chance de ter problemas cardiovasculares. O professor de odontologia Eduardo Rollo Duarte explica qual a relação entre a boca e o coração. “Pessoas que não escovam pelo menos duas vezes por dia tem 75% mais chances de terem problemas cardiovasculares. Muito provavelmente porque quem não escova bem ou escova pouco desenvolve gengivite, que é uma inflamação dos tecidos gengivais”, afirma o dentista. Segundo os especialistas, as bactérias que causam a inflamação da gengiva entram na corrente sanguínea e podem se alojar nas artérias que irrigam o coração. Os parasitas seriam responsáveis por contribuir na obstrução da circulação do órgão, o que pode levar a um infarto. Depois de fazer o tratamento dentário contra gengivite, o aposentado Élcio Bonasorte não só recuperou os dentes como conseguiu controlar o diabetes descompensado. “O primeiro pensamento da pessoa tem que ser esse, manter a boca sempre sadia”, diz o paciente. Os especialistas dão dicas de como fazer para fazer a escovação correta dos dentes. “Uma boa escovação começa com um forte bochecho com água, na pia do banheiro. A pessoa ao escovar precisa ver os movimentos, de preferência sem muita força, de forma circular em volta dos dentes com a ponta da escova, colocar as cerdas próximas à gengiva”, afirma Eduardo. “As escovas não duram. Eles devem ser trocadas com certa frequência. Toda vez que a escova estiver com as cerdas esgarçadas, com as pontinhas começam a ficar alteradas, a escovação não será eficaz, porque a cerda deve ser bem macia para poder limpar os dentes em volta da gengiva”, diz o dentista. A escova de dentes deve ser trocada no máximo a cada dois ou três meses. Os dentistas dizem que não é preciso exagerar na quantidade de pasta de dente. O equivalente a um grão de ervilha é o suficiente, já que a parte importante da limpeza no uso adequado da escova.

(Fonte: G1)

05 agosto 2010

Estudo aponta 95 regiões no DNA ligadas ao metabolismo de gorduras...

Um estudo realizado por cientistas do Centro Helmholtz em Munique e coordenado pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, identificou 95 loci de genes no genoma humano, cada um deles associado com pelo menos um dos fatores fundamentais ao metabolismo de lipoproteínas: colesterol e triglicérides. Locus (plural, no latim, loci) são regiões em cada cromossomo nas quais um gene pode ou não estar, exercendo ou deixar de cumprir determinada influência em fenótipos. São posições fixas em um cromossomo.
Divulgado na versão online da revista científica Nature, o estudo foi iniciado para responder a duas questões: existem genes nos loci identificados com o metabolismo de lipídios; se existem, poderiam ter alguma relevância no desenvolvimento de terapias. Christian Gieger, do Instituto de Epidemiologia do Centro Helmholtz, acredita que a resposta às perguntas é positiva. “Nossa análise permitiu apontar variantes genéticas ligadas não só com altos níveis de lipídios, mas também com doenças arteriais coronarianas”, afirma o médico.
Do total de loci, 59 foram associadas a uma das quatro feições dos lipídios – colesterol total, LDL (conhecido como “colesterol ruim”), HDL (o “colesterol bom”) e triglicérides – pela primeira vez. “Identificar as novas variantes é provavelmente a parte mais interessante do nosso estudo”, afirma Tanya Teslovich, pós-doutora e pesquisadora na Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan. Tanya cruzou os resultados de 46 estudos diferentes, que representam informações coletadas junto a mais de 100 mil pessoas, por meio de um processo conhecido como meta-análise.
“É comum o argumento que meta-análises com mais de 100 mil testes têm relevância pequena na biologia de doenças complexas”, explica o professor Heinz-Erich Wichmann, diretor do Instituto de Epidemiologia do Centro Helmholtz. “Nosso estudo refuta essa crença, os novos loci descobertos possuem clara relevância clínica e biológica.”
Segundo os pesquisadores, a maior parte das variantes genéticas encontradas são associadas com o colesterol ruim (LDL) e também com doenças cardiovasculares. “Nós queremos que o LDL esteja em nível saudável em nosso corpo, mas agora ele pode também prover a pista para compreender patologias e evitá-las com desenvolvimento de terapias.”

(Fonte: G1)

Biodigestores....

Software vai ajudar produtores rurais a decidir se instalam biodigestores...

Por Danielle Jordan / Ambientebrasil

Um programa de computador que promete ajudar o produtor rural a instalar, ou não, um biodigestor, foi apresentado nesta quarta-feira, 04, durante o workshop “Como dimensionar biodigestores para geração de energia a partir de resíduos animais”, realizado no auditório da Diretoria Geral da Administração da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp.
O software poderá ser baixado pela internet gratuitamente nas próximas semanas, segundo um dos desenvolvedores, Aurélio Souza. Antes disso, o programa deverá ser refinado para oferecer dados mais precisos. A ferramenta consiste em uma série de planilhas que devem ser alimentadas com informações diversas.
São avaliadas variáveis como a quantidade de resíduos produzidas pelos animais em um determinado período, o consumo de energia elétrica e o tamanho do plantel. Os dados são cruzados com outros, relacionados aos investimentos necessários para a instalação.
Os cálculos realizados pelo programa determinam a necessidade do biodigestor e o tamanho adequado, assim como quanto deverá ser investido e a taxa de retorno. “Embora os dados não sejam absolutamente precisos, eles fornecem uma direção para que o usuário tome uma decisão”, explicou Souza.
O principal objetivo do programa é permitir que a propriedade se torne autossuficiente energeticamente, reduzindo os impactos causados pelos resíduos gerados pelos animais.

*Com informações da ascom.

03 agosto 2010

Acervos protegidos...irão realmente investir nisso???

Um incêndio ocorrido na manhã de 15 de maio deste ano destruiu grande parte do maior acervo de serpentes no Brasil. Como muitas das espécies carbonizadas nem sequer haviam sido descritas, a tragédia do Instituto Butantan, em São Paulo, representou um prejuízo à ciência que não pôde ser calculado. O acidente motivou um debate sobre as condições dos museus brasileiros de história natural durante a 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizada na semana passada em Natal (RN).
O curador da coleção de herpetologia do Butantan, Francisco Luiz Franco, o diretor do Museu Paraense Emilio Goeldi, Nilson Gabas Júnior, e a diretora do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Cláudia Rodrigues Carvalho, participaram de uma mesa-redonda coordenada pelo herpetólogo Miguel Trefaut Rodrigues, professor da Universidade de São Paulo (USP), para tratar do assunto. “Laboratórios de física ou de química podem ser reconstruídos após um acidente, mas a perda de coleções naturais é irreparável”, disse Trefaut ao abrir o encontro. Segundo ele, o acidente no maior acervo brasileiro de serpentes e artrópodes deverá suscitar mudanças e fazer o país se dar conta da importância desse material. Ao relembrar o incêndio, Franco contou a história da coleção que continha mais de 85 mil serpentes, que teve início no fim do século 19 por meio de uma campanha do fundador do instituto, o médico Vital Brazil.
Fundado inicialmente para combater a peste bubônica que atingia a população da Baixada Santista, o Instituto Butantan logo absorveu as pesquisas de seu fundador no desenvolvimento de soros antiofídicos. Para tanto, Brazil precisava de serpentes que fornecessem veneno, a matéria-prima para os antídotos. Uma campanha nacional foi lançada pedindo à população o envio de serpentes capturadas. Exemplares de todo o Brasil começaram a ser enviados à instituição paulistana, contando com transporte gratuito dos Correios, das Forças Armadas e de companhias de estradas de ferro. A maior parte da coleção destruída pelo incêndio foi formada desse modo, com exemplares doados pela população durante mais de um século. “As perdas também incluem parte da história do Brasil, informações sobre a alternância das culturas e muitos outros dados que esses animais guardavam”, lamentou Franco. O trabalho de recuperação dos exemplares remanescentes ainda não acabou. Animais e partes recuperadas foram armazenados em cem galões de 50 litros cada um e serão catalogados. Franco espera ter recuperado entre 15% e 20% da coleção de serpentes e entre 40% e 50% do acervo de aranhas. Os pesquisadores do Butantan já retiraram em bom estado 370 das quase mil espécies de cobras armazenadas e esperam que o número chegue a 500. “Esperamos recuperar 50% dos tipos de serpentes e 80% de artrópodes e ainda 60% de materiais emprestados de outras instituições”, disse. Como lição da tragédia, Franco listou uma série de medidas que poderiam ter minimizado os prejuízos, como a valorização dos dados digitalizados das coleções e a distribuição de exemplares. O Butantan construirá um novo prédio para abrigar a coleção remanescente.
Fazer permuta de materiais e aumentar o intercâmbio com outras instituições são meios de manter exemplares em locais diferentes de modo a reduzir os riscos de desaparecimento de espécies. Outro ponto importante é o aumento na valorização dos acervos do gênero em todo o Brasil. “Esse acidente deve fortalecer os acervos semelhantes, que agora tiveram sua importância aumentada, pois deverão cobrir a demanda que o Butantan supria”, destacou Franco.
Proteção aumentada – Essas outras coleções nacionais estão concentradas em poucos lugares, segundo Gabas, diretor do Goeldi. “Cerca de 80% das coleções biológicas do Brasil estão em apenas três instituições: Museu de Zoologia da USP, Museu Nacional do Rio de Janeiro e Museu Paraense Emílio Goeldi”, disse.
Guardião de um herbário com mais de 190 mil exsicatas (exemplares vegetais), além de numerosos registros de invertebrados, artrópodes, macacos e moluscos, o museu paraense sofre com problemas semelhantes aos da instituição paulista. “Dois dias antes do acidente no Butantan, fizemos uma reunião visando a evitar o estoque de álcool no museu”, disse Gabas. Por causa de uma licitação anual para a compra do produto, a quantidade do líquido necessário para um ano inteiro era entregue de uma só vez. O grande volume fazia com que pesquisadores armazenassem álcool em suas salas e até em alguns corredores do museu. A solução foi determinar o parcelamento da entrega.
No ano passado o Goeldi sofreu um princípio de incêndio, que foi controlado pelos funcionários antes que atingisse maiores proporções. Como resultado, a instituição iniciou um programa sofisticado de proteção contra incêndio, no valor de R$ 1,5 milhão, que envolve detectores de calor e fumaça e disparadores de dióxido de carbono nos ambientes.
Além disso, o museu investiu na reforma do sistema elétrico e pretende substituir os condicionadores de ar, adquirir armários à prova de fogo e compactar as coleções pela utilização de armários deslizantes.
Falta de curadores – Cláudia Carvalho, que administra os 15 milhões de peças que compõem o acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, falou no debate sobre os principais problemas enfrentados pela instituição criada em 1818 por D. João VI, como falta de espaço, infraestrutura inadequada e orçamento insuficiente. Para complicar, toda reforma precisa de um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), uma vez que o Museu Nacional ocupa um edifício tombado que foi residência da Família Real portuguesa. O museu já sofreu infestação de cupins e o acervo está concentrado no prédio histórico. A distribuição das peças em novos prédios está ameaçada até pela Copa do Mundo de 2014. “O estádio do Maracanã é vizinho na área do museu e boa parte de sua área externa poderá vir a ser usada nas obras de ampliação previstas”, disse Cláudia.
A diretora também reclama da falta de curadores especializados. “As atividades curatoriais não fazem parte da carreira acadêmica e não são atraentes para o docente”, frisou. Até a terceirização de mão de obra é crítica para um museu, segundo a diretora, uma vez que a manutenção das peças exige cuidados especiais e treinamento de pessoal. Como a rotatividade de terceirizados é maior, especialistas do museu têm que dedicar parte do seu tempo para treinar constantemente esse pessoal. A situação dos museus levou os participantes a sugerir uma moção, solicitando a valorização, a preservação e o crescimento dos acervos científicos nacionais.
“O desenvolvimento de um estudante que cresce ao lado de uma coleção científica é muito mais rico, por isso devemos diversificar e partilhar essas coleções”, disse Trefault.
(Fonte: Fabio Reynol/ Agência Fapesp)